quinta-feira, 27 de maio de 2021

eu (ou)vi o som do amor ou como eu me apaixonei por BTS

como resistir a essas criaturas? impossível! da esquerda pra direita: Jimin, J-hope, Jin, V, RM, JK e Suga.

quando a Clara me mandou escutar BTS pra ser mais feliz eu o fiz imediatamente porque 1. ela nunca está errada e 2. tinha se dado ao trabalho de me mandar uma playlist curada por ela mesma e quem sou eu para desrespeitá-la desse jeito e não dar pelo menos uma chance aos garotos. dei play. 

quando escutei os primeiros acordes de "Outro: Ego" meu coração disparou e deu aquele friozinho na barriga gostoso igual àquele que dá ao andar na montanha-russa ou quando nos deparamos com arte de primeira. dava pra sentir a serotonina, dopamina ou o que seja subindo na cabeça e fui tomada por uma alegria imensa e oceânica. pronto, o estrago tava feito. podem me incluir no A.R.M.Y porque agora eu sou cadelinha desses 7 meninos-homens maravilhosos. nunca fui tão feliz!*

eu espero com este post articular alguns pensamentos que eu tive ao mergulhar no universo lindo e maravilhoso dos BTS nesta última semana. lá vai!

bom, primeiramente, é muito bom. do ponto de vista musical, cada nota, cada timbre, cada sílaba é articulada e executada perfeitamente e nos dá uma experiência sonora tão sensual e rica que não encontramos por aí com facilidade nessa era desértica de música algorítmica. eu diria até que o som do BTS é uma mistura perfeita e irresistível entre o orgânico e inorgânico, entre o analógico e o digital. dá pra sentir o suor, o esforço humano em cada nota (e em cada passo de dança também). não é um trabalho feito por I.A. e jamais conseguirá ser (re)produzido por máquinas. é música demasiadamente humana feita para humanos. sendo que esses humanos criadores têm recursos infinitos e talento de sobra para criar tais obras super-humanas, é claro. agora, em termos de conteúdo, aaah! é altamente potente, sedutor, alegre... tem de tudo aí, letras sobre amor, sobre as angústias millennials de se viver no fim do fim da história, a luta contra o sentimento de não prestar pra nada nesse capetalismo infernal, júbilo escapista, ode à amizade, etc... de fato, é um universo mesmo. tem tudo pra todo mundo.

o arrebatamento que BTS nos proporciona é o encontro perfeito entre apolo e dionísio: a forma precisa, meticulosa encontra um conteúdo exuberante, intenso. não sei dizer quem é o meu favorito em cada line, todos são insanamente talentosos e competentes. mas se alguém me perguntar hoje, a minha resposta é: o suga é o meu favorito da rap line e o v, da vocal line**. todo mundo dança bem, não dá pra escolher um, desculpa.

eu queria ter um amigo neurologista que tirasse uma chapa do meu cérebro pré e pós-BTS. tenho certeza que os meus circuitos neurais agora são outros -- essa música mexe com o nosso hardware e software. Espinosa daria seu selo de aprovação porque ô coisa boa de escutar, viu! Só traz afetos alegres e espanta os tristes... BTS contra os maus encontros e a deterioração do corpo!

toda essa experiência me fez pensar em um ensaio da Ellen Willis ("Beginning to See the Light" contido no livro epônimo), sobre a contradição de ser uma feminista e gostar de rock (machista), que eu acho que se aplica ao BTS no seguinte sentido: sim, eles são produtos de uma indústria cultural hiper-capitalista tenebrosa; mas, de alguma forma eles conseguem quebrar com esse tipo de pop-neoliberal besta, eles rompem totalmente o consenso do realismo capitalista. "música tímida me faz me sentir tímida" ela disse; a subversão e diversão proporcionada pelo rock a faziam questionar e se rebelar contra o establishment, isto é, a própria contradição do rock subsidiava sua ação política, dava munição para lutar contra as opressões. BTS é isso, gente! a alegria, a excelência e a força do BTS reside nas contradições que perpassam sua música, no entanto, eles conseguem ir além delas e nos levam junto, ainda bem.

BTS é a flor no asfalto, é o grito de  "não!" para esse sistema corrupto e corruptor e é o "sim!" para o amor, a solidariedade e para esse novo mundo que, não se enganem, vai nascer. vai nascer porque ele já está , eu (ou)vi.

tem uma história muito fofa do DJ John Peel (BBC Radio 1) que conta que ele chorou quando ouviu "Teenage Kicks" do The Undertones pela primeira vez e a partir daquele momento, tocava duas vezes seguidas em todo programa. além de gostar da música, Peel admirava o fato daqueles meninos produzirem algo tão sublime em meio a tanta destruição e violência. chegava a ser subversivo o fato de que os Undertones produziram essa lindeza em uma Irlanda do Norte ocupada pelo exército britânico, com seus amigos morrendo ou matando, onde andar na rua não era seguro pra ninguém. nada te garantia uma segurança ou te protegeria de uma realidade em que você poderia ser sequestrado pelo exército ou morto por estar no lugar errado na hora errada (i.e. estar completamente à mercê de poderes coloniais arbitrários). é, soa terrivelmente familiar, né***. querer ser apenas um jovem e ir na casa do seu amorzinho para passar um tempo, apenas se deixar ser, diante daquelas circunstâncias horríveis, além de ser um desejo legítimo, era um exercício de prefiguração: não seria lindo um mundo onde todos**** os jovens pudessem estar seguros e em paz ao se encontrarem com o seu amorzinho? não terem nada pra fazer a não ser falar no telefone, beijar e dançar? é esse o mundo que eu quero. 

a OMS afirmou que a pandemia provoca(rá) um trauma tão grande quanto o da segunda guerra mundial. acho que as artes vão ter um trabalhão para elaborar tudo isso aí, mas uma coisa eu tenho certeza: os BTS vão produzir o álbum do século (pode vir! meu corpo está pronto!).

quando RM canta que ele quer nos consolar e nos dar força pra continuar, é muito difícil se render e cair no cinismo, achar que música pop não importa, que é tudo lixo. eu não consigo me entregar ao derrotismo -- eu realmente acredito nele e nos BTS também, dá pra sentir a sinceridade, o compromisso, o amor que eles têm pela música, pelos fãs. 

BTS destrói a presente irrealidade decrépita e cria outros mundos possíveis. depois desse post apaixonado é óbvio que estou falando pra largar tudo e ir escutar agora. aviso: não tem mais volta, mas, sinceramente, você jamais vai querer estar num mundo onde os BTS não te afetem.

a seguir o rol dos meus vídeos favoritos <3 <3 <3 <3









AVISO !!!! esse mv precisa ser visto com um desfibrilador do lado:




* só tive tal arrebatamento quando escutei grime, trap e 100 gecs pela primeira vez.

** atenção!!!! essa opinião não reflete, cof cof, os meus gostos na categoria "homens perfeitos". em tal quesito, eu sou namorada do JK e do RM [EDIT 07/06/2021: Teteco (V) virou o meu bias e o Yoongi (Suga) é o meu wrecker]. 

*** eu ainda não conseguir pensar direito sobre isso, mas baby da gal me dá essa mesma impressão que teenage kicks me dá. a dissonância cognitiva entre uma música bela e as condições de produção horríveis que, de alguma forma, penetram essa beleza e deixam alguns rastros. fica um post para outro dia.

**** aqui eu me inscrevo naquela velha estrutura de sentimento socialista internacionalista que quer liberdade, autonomia e dignidade incondicionais e irrestritas para TODO o mundo sem exceção.

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